PAIXÃO CAIPIRA

Essa história que agora eu vô contá,
aconteceu lá pras bandas de Araxá.
Foi numa fazenda cheia de plantação, gado, terrero e inté um casarão.
Nela morava uns caboclo, desses robusto qui nem aruera,
e uma caboclinha, jeito doce, bonita e moreninha.
Ela já tava prometida, ia casá cum peão da fazenda Jatobá.
Moço forte, pele morena e queimada de sor de tanto c'o gado lidá.
Mais ela num tava convencida que era isso que queria da vida.
Sonhava istudá, pois iscutava rádio e tinha vontade di ir pra capitá.
É, mais parecia qui num tinha jeito daquela vida mudá,
pois num tinha ninguém pra daquele lugá lhe tirá.
Foi intão que um dia apareceu, com uma mala na mão,
um mascate que vendia ropa, sapato e traia di peão.
Era um rapaiz distinto, ropa boa e todo arrumadinho,
qui dispertô na caboclinha um sentimento danadinho,
uma vontade di cum ele namorá.
E o rapaiz, por sua veiz, quando viu a moça formosa,
um presente logo foi lhe dá: um lindo vistido grená.
Ela ficô faceira, seu coração disparô,
e disse sem cerimônia - quero i imbora c'o sinhô!
O mascate todo feliz, pegou a mala e a moça, pois na carroça e partiu;
mais num sabia o coitado o que o distino havia lhe preparado;
Ia tê di passá pela fazenda Jatobá.
E foi bem ali, dispois da curva da istrada qui a moça e o mascate viero a morte incontrá.
O peão ficô sabeno qui os dois tava ino imbora,
pegô a cartuchera, muntô no alazão e meteu no bicho a ispora,
pra mode na bera da istrada o casalzinho isperá.
O sonho da moça acabô, di saí do interiô;
e o mascate inocente, morreu por seu novo amô.
Hoje naquela istrada, duas cruiz tão infincada na portera da Jatobá,
qui é pra mode ninguém isquecê
qui quem quisé cuma moça dali si casá,
tem qui primero sabê si ela num é prometida,
pra num acontecê de um peão a vida lhe tirá.