TARDE PRA DIZER QUE TE AMO, MÃE!

Nasci num dia frio. Estava tão quentinho dentro da barriga da minha mãe que foi um choque quando saí. Mas, enfim, não consegui me segurar mais lá dentro. Ficava ouvindo mamãe e papai falando das coisas que iríamos fazer quando eu nascesse que não via a hora do dia chegar. E chegou, eu só não sabia que ia estar tão frio, mas isso não foi um grande problema porque foi só eu chorar bem alto que todos correram pra me aquecer. Não me lembro quem eram aquelas pessoas que estavam ali. Só lembro da minha mãe. Que rosto lindo! Ela chorava e sorria ao mesmo tempo e seu rosto estava iluminado. Eu já a amava desde quando estava lá dentro dela, mas foi ali, naquele momento do nosso primeiro encontro, naquela fria sala da maternidade que eu me apaixonei por ela. Seu colo era tão quentinho e gostoso e sua voz tão doce que me senti segura e protegida como quando estava em sua barriga.
Logo fomos pra nossa casa. Que delícia era o meu bercinho. Minha mãe havia preparado meu lugarzinho com tanto carinho que estava tudo perfeito. Eu gostava tanto de ficar no colo dela, de ouvi-la falando comigo aquelas palavras carinhosas de um jeito tão engraçado, que quando ela me colocava no berço, muitas vezes eu chorava pra ficar mais um pouquinho no seu colo. E assim fui crescendo e conhecendo mais gente. Meu pai, meus avós, tios, vizinhos. Era tanta gente que vinha me visitar que eu me sentia uma verdadeira princesa, embora nem soubesse o que era isso, e todos diziam a mesma coisa a meu respeito – como ela é linda! Eu também não sabia o que era isso, mas acreditava que era coisa boa pois quando falavam sorriam e seus olhos brilhavam. E minha mãe era a que mais falava isso pra mim.
Os meses foram se passando e eu crescendo mais e mais, aprendendo coisas legais como engatinhar, depois andar, sentar e falar. E, de todas as coisas que aprendera, esta era a que eu mais gostava, falar. Finalmente aprendi a chamar a pessoa que mais amava no mundo – mamãe. Como era gostoso falar mamãe. Depois, com o tempo, não sei se por preguiça ou por ser mais fácil passei a chamá-la simplesmente de mãe, mas esse nome soa tão doce até hoje aos meus ouvidos. Mãe!
A vida foi seguindo seu curso e todas as pessoas iam e vinham da minha vida, mas só minha mãe estava sempre comigo. Lembro de meu avô, que sempre vinha me ver no final de cada dia, não veio mais, foi embora e nunca mais voltou. Eu esperava por ele mas ele não vinha. Depois entendi que ele jamais voltaria porque havia morrido. Mas minha mãe não, ela estava sempre comigo. Um dia meu pai se foi também. Eu ficava esperando ele voltar e ele não voltava. Depois entendi que ele havia ido embora e não queria mais voltar pra mim. Mas minha mãe ficou comigo. Depois notei que outras pessoas se foram da minha vida sem mais nem menos. Avós, tios, primos, amigos. Mas esses não tinham morrido nem me abandonado, só foram viver suas vidas e de vez em quando a gente ainda se encontra e diz “olá”, mas minha mãe continuava comigo.
Depois veio o namorado da minha mãe. No início eu tinha ciúmes mas depois passei a gostar dele porque vi que ele gostava da minha mãe e senti que ele gostava muito de mim  também. Mas ele também se foi e mais uma vez minha mãe ficou comigo. Em todas as ocasiões especiais da minha vida ela sempre esteve presente. Na escola, no ballet, nas minhas apresentações, no curso de modelo, nos desfiles, nas formaturas. Sempre ela e só ela. E nos momentos sem importância também. Em casa vendo tv sobre a cama, no parque, no shopping. Quanto desprendimento ela demonstrava ao me levar aos lugares para me encontrar com amigos e até namorados. E pra buscar então, às tantas da madrugada fosse no verão ou no inverno. Nossa, como minha mãe era importante pra mim. O cuidado, o carinho e o amor que ela me tinha ninguém jamais demonstrou, eu sei.
Hoje sou uma jovem bonita, culta, sou modelo. Tenho amigos, parentes e até namorado, mas sabe, ninguém é igual a ela, ninguém poderá substituí-la, sabe por que. Porque eu senti que era a pessoa mais importante na vida dela, porque ela sempre ficava comigo, não importava o que acontecesse e como eu a tratasse. E hoje, ao fazer esta reflexão, sinto que amo minha mãe tanto ou mais do que quando a vi pela primeira vez naquela maternidade. Tudo o que sou devo a ela porque só ela sempre esteve comigo. Eu amava verdadeiramente minha mãe, mesmo quando a maltratava e dizia que odiava. Pena que descobri isso só agora, tarde demais, porque agora ela também se foi e eu fiquei só, embora rodeada de pessoas. O vazio que ficou ninguém vai preencher.
Que pena, mãe, que pena! Me perdoa.


Sua amada filha.


Este foi o discurso de uma jovem no funeral de sua mãe, uma mãe que amou demais e sofreu as conseqüências desse amor incondicional. Se pra você ainda há tempo de corrigir os erros que tem cometido em relação à sua mãe, faça isso agora, antes que seja tarde demais!